segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

10 - Uma Festa Sem Festa

Em um ambiente pomposo pessoas conversavam ao som de uma musica baixa, MPB era o que tocava na festa tão gloriosa do jornal, em meio a tudo aquilo, Frederico estava desnorteado, pois não sabia o que fazer, como conhecia poucas pessoas do jornal e nunca havia falado direito com eles antes, seria uma má ideia simplesmente chegar e falar com alguém no meio da festa, para ele seria uma tremenda falsidade. Tentou se distrair, comeu uma besteira aqui e ali, essas festas não eram o melhor lugar para se comer, só haviam coisas pequenas e ruins, ele não entendia como pessoas que comem essas coisas ruins conseguiam ser tão gordas. Sentava, andava e parava, pareciam horas correndo em seu nervosismo mas haviam passado poucos minutos, não aguentava ficar “parado” lá. Resolveu apelar para seu celular, jogar qualquer besteirinha, quando deu por si o celular estava perto de descarregar, então disse bem baixinho um “merda” e guardou o celular de volta.

Depois de ficar enrolando por lá, se tocou de um detalhe, no canto de um lugar da sala havia outra alma sozinha, ele estava isolado e aparentemente tão deslocado quanto ele, então ele chegou perto dele, que tinha um cabelo médio que quase chegava a cobrir os olhos. Então Frederico se sentou perto dele e fingiu estar mexendo em seu celular, enquanto olhava de vez em quando para o sujeito, que ficava somente escorado de braços cruzados em sua cadeira. Ao olhar mais atentamente Frederico se tocou de que o sujeito estava usando fones de ouvido, escutando algo tão alto que era possível ouvir o ruído mesmo dentro de uma festa, depois de um tempo Frederico começou a reconhecer o ruído, era uma música familiar a ele, logo ele teve certeza do que era, então tendo um motivo para conversar ele disse:

- Sensorium nessa festa?


Então o sujeito levantou a cabeça, virou para Frederico e disse:

- Algum problema?

- Claro que não, é uma das minhas músicas prediletas – respondeu.

- Então pra que a observação? – perguntou o sujeito enquanto virou a cabeça para o outro lado.

- É que... eu me sinto um pouco deslocado em festas assim... não tenho o que fazer nem com quem conversar – disse Frederico.

- Não vá me dizer agora que veio sozinho e que ninguém lhe convidou – respondeu o sujeito.

- Bem... vim porque sou estagiário da empresa, mas não tenho amigo, ou conhecido algum lá, na verdade só falo com uma única pessoa, que é meu chefe – respondeu Frederico.

- Então ele gosta muito de você, porque não é todo estagiário que vem para uma festa dessas – disse o sujeito.

- Na verdade sou o único estagiário dele. Você também é estagiário, não é? – perguntou Frederico.

Então o sujeito tirou os fones de ouvido e disse:

- Sim, também sou estagiário do jornal. Qual curso você faz? – perguntou o sujeito.

- Faço publicidade. Prazer! Sou Frederico – disse ele, mas ainda meio assustado pela repentina mudança do sujeito.

- Prazer, sou Mateus.

- Legal! Você é o primeiro estagiário com quem eu falo aqui. Então, que outras músicas você tem aí?

E logo começaram a conversar sobre música e sobre bandas. Mateus ficava espantado com o quanto Frederico sabia sobre as bandas e sobre música em si, ele também sabia, mas não tanto quanto seu novo conhecido e aprendeu coisas interessantes, e outras fúteis, mas tudo era agradável por se tratar de música. Então Frederico logo associou a sua vida ao tema música, involuntariamente, ele possuía essa característica, sempre associar um tema a outro sem sequer notar que o havia feito. Falou sobre aonde estudou e aonde estuda, e o que achava do curso.

- Que engraçado, já tive coisas assim, só que na escola eu era mais agressivo... Na faculdade me tornei meio que um perdido na vida, não levei a sério e isso me remeteu a perder dois semestres, estou no 5º semestre. - disse Mateus.

- Também estou no 5º, mas é porque eu entrei um ano depois. Você deve ter tido seus motivos pra isso. Qual curso você faz? – perguntou Frederico.

- Direito, direito mas fazendo tudo errado. Que bom que você nunca jogou no lixo um ano inteiro de sua vida ou vadiou como eu, nunca faça isso... – disse Mateus.

- Pare com isso! Você deve ter tido motivos pra isso, mesmo que pra outras pessoas tenha sido uma coisa deplorável ninguém pode te julgar porque ninguém está na sua pele pra ver o mundo como você vê, eu nunca julgo ninguém assim porque não acharia justo que me julgassem... – respondeu Frederico.

Mateus abaixou a cabeça por um momento, e disse:

- Ninguém fala assim comigo sabe... até porque não tenho muitos amigos, se eu tiver algum de verdade.

- Ah, que isso, acho que você deve ser uma pessoa legal de se conversar, deve ser porque aturou meu monólogo, desculpe. – disse Frederico.

- Que nada, eu que falo de menos.

- Meu deus! O tempo voou enquanto conversamos, já são 23 horas, preciso ir para casa. – disse Frederico.

- Mas já?

- Sim! Pretendo ir de ônibus ainda, então, foi muito bom conversar com você, a gente se vê pelo jornal!

- Mas e o importante da festa? Não vai esperar?

- Não tenho tempo, não vim aqui para ver o espetáculo e premiações, vou logo embora.

- Então anote meu número! Qualquer ajuda que a gente precisar no jornal e coisas assim nos comunicamos, ok? – disse Mateus.

- Claro! Então, boa noite – disse Frederico enquanto anotava o número – até mais!

Então, Frederico saiu da festa, tirou a roupa social e foi esperar por um ônibus voltando para casa não totalmente vazio, pois havia feito um novo amigo. Mas mal ele sabia que a festa estava somente para começar, e que haveria muita coisa rolando...

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