sexta-feira, 4 de março de 2011

11 - O Começo da Festa


Uma chata mensagem importunando uma hora como essas no celular? Quem seria? Perguntava-se Frederico, que tinha trauma de roubos, mas como não havia ninguém olhando resolveu checa-la. “Porque saiu logo agora que a festa iria começar? Perca isso e se arrependerá”. Seria uma ameaça? Se fosse preocupava o garoto, já que a pessoa que o perseguia estava na festa, seria alguém do jornal? Seria o próprio José? De qualquer maneira ele concluía que o melhor era voltar para sua casa o mais rápido possível, e assim o fez.

Na festa José parecia ansioso, pois Patrícia não havia dado sinal de vida, conversava com uns e outros por lá, e nada de ela aparecer, ele se sentia mais a vontade pois o local estava cheio de pessoas da família Maireon, a família dona original do seu jornal que era rival dos Barbosa mas nunca havia realmente se manifestado uma contra a outra, para não gerar uma guerra.

Por um instante lembrou-se de seu estagiário e foi ver como ele estava então o procurou em todo o recinto, mas não o via, logo pensou “deve estar no banheiro” e parou de procura-lo, até que se sentou por lá bebendo, e quando olhou para a entrada, viu aquela figura se aproximando, com um vestido carmesim exuberante, um penteado com um ondulado que nunca havia visto nem nas melhores modelos, e saltos que faziam parecer deixa-la com 1,85 de altura, ao vê-la não queria acreditar de quem se tratava, mas acabou concluindo que sim, era Patrícia. Depois de varias fotos, e pessoas se aproximando dela para cumprimenta-la e conversar, mas certas mulheres olhavam com cara feia para ela, que foi se integrando à festa.

Quando Frederico chegou a sua casa, recebeu outra mensagem, que dizia: “última chance de ver a festa, ligue a TV no canal 13”. Então ele o fez, talvez por temer algo, e viu que estavam sendo transmitidas partes da festa de vez em quando, e que a hora das homenagens e premiações estava próxima.

Então, Patrícia e José foram para um canto mais reservado conversar.

- Eu juro que realmente não esperava te ver dessa forma... Você viu como algumas mulheres te olharam? – perguntou José.

- Não vi, eu sempre olho para frente, nunca para baixo. – respondeu Patrícia.

- Nossa... Muito menos ouvir disso de você, deve estar realmente no sangue... – respondeu ele.

- Estou somente encarnando o personagem, oras. Está tudo pronto, estou com uns pontos aqui, e creio que você também está preparado. – disse ela.

- Estou sempre preparado, mas não sei exatamente o que você pretende...

- Bem, minha parte é mais pessoal, já você... Vê aquele sujeito de meia idade de lado, com um copo de Bluelake na mão? Ele é um dos que controla o jornal por trás dos panos. Sabe as matérias que você tem que mudar sempre? Nem chegam a ele, acredito que já o tenha satisfeito muito com seu trabalho, apresente-se como fã dele e amigo da família e diga a ele que foi você quem escreveu a matéria sobre a inauguração da nova loja de materiais de construção.

- Nossa, e qual o sentido disso? Distrai-lo?

- Também, porque além de distraído, ele dirá coisas, que você terá que gravar TUDO o que ele disser, pois haverá contradições sobre uma notícia que foi publicada por outro jornal... Enfim, entendeu, não?

- Só espero que saiba o que está fazendo.

- Pode deixar, mas minha missão é outra... – então Patrícia olhou para o lado onde estava seu verdadeiro alvo e se dirigiu a ele.

Chegou perto e ele levantou a cabeça olhando pra ela, então ele deu um sorriso sarcástico enquanto segurava o seu copo com whisky e ela disse:

- Eu realmente não achei que você teria a cara de pau de aparecer aqui, ainda mais em tão pouco tempo, Maurício.

- Devo te agradecer agora, ou só mais tarde? Pela liberdade, priminha – respondeu ele rindo.

- Olhe para sí mesmo... Parece acabado em drogas, nem parece o mesmo filhinho de papai que sempre foi. Assassino!

- E quem diria que um dia te veriam aqui, assim, mais pomposa que qualquer outra aqui, querendo se exibir para pisar nos outros, – então ele aproximou o rosto olhando bem pra ela e finalizou – hipócrita.

- Se eu não estivesse tão alegre hoje talvez você tivesse levado um tapa, mas não quero sujar minhas mãos, hoje estou de folga, não é dia de bater em criminoso.

- Então você veio aqui para isso? Jogar na minha cara tudo que eu sou na sua visão? Parabéns pelos conceitos são bem originais.

- Não estou dizendo simplesmente o que acho, e sim tudo que você realmente é.

- Não sabia que havia ascendido de policial para juíza... Mas de qualquer forma, se eu não estou pagando pelo que fiz é por SUA culpa, foi você quem avisou a família imediatamente sobre isso.

- Não venha me dizer que você não queria? Eu sei que é o que você certamente teria pedido na hora, você sempre correu para de baixo das pernas dos seus pais em horas assim, e não seria diferente dessa vez.

- Você realmente adora ficar julgando os outros não é mesmo? Mas novamente olhe pra si mesma, você está fazendo de tudo pra chamar atenção de todos da família, a atenção que você nunca teve da família e agora quer de qualquer jeito.

- Não me faça rir... E acredite: chamar a atenção deles é a última coisa que me deixaria feliz. Eles que não me deixam sair e conversam sobre mim mesmo eu não estando nem aí pra eles alguns até me admiram, eu não preciso sair assaltando farmácias e matando pessoas pra chamar atenção, somente isso.

- Cansei de discutir com você, se eu não admito meus erros, imagine você, que provavelmente se sentiu suja ao saber que me proporcionou a liberdade, que é o contrario do que jurou fazer no seu trabalho e agora vem encher meus ouvidos com suas palavras cheias de malícia para tentar aliviar sua própria consciência, não tenho saco para egoístas com você – então Maurício se afastou dela dando as costas.

- Belas palavras para alguém que aceitou ir para a Europa passar umas férias em algum hotel de luxo depois do stress de cometer um latrocínio.

Então Mauricio abaixou a cabeça e parou de andar por um instante e disse:

- Férias... Cala a boca, você não sabe de nada... – e continuou a andar.

Enquanto isso, José enrolava o pai de Maurício, que não pode manter o olho no filho enquanto isso. E as congratulações estavam sendo entregues e certos membros iam lá, dar um discurso, e Patrícia estava nessa fila...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

10 - Uma Festa Sem Festa

Em um ambiente pomposo pessoas conversavam ao som de uma musica baixa, MPB era o que tocava na festa tão gloriosa do jornal, em meio a tudo aquilo, Frederico estava desnorteado, pois não sabia o que fazer, como conhecia poucas pessoas do jornal e nunca havia falado direito com eles antes, seria uma má ideia simplesmente chegar e falar com alguém no meio da festa, para ele seria uma tremenda falsidade. Tentou se distrair, comeu uma besteira aqui e ali, essas festas não eram o melhor lugar para se comer, só haviam coisas pequenas e ruins, ele não entendia como pessoas que comem essas coisas ruins conseguiam ser tão gordas. Sentava, andava e parava, pareciam horas correndo em seu nervosismo mas haviam passado poucos minutos, não aguentava ficar “parado” lá. Resolveu apelar para seu celular, jogar qualquer besteirinha, quando deu por si o celular estava perto de descarregar, então disse bem baixinho um “merda” e guardou o celular de volta.

Depois de ficar enrolando por lá, se tocou de um detalhe, no canto de um lugar da sala havia outra alma sozinha, ele estava isolado e aparentemente tão deslocado quanto ele, então ele chegou perto dele, que tinha um cabelo médio que quase chegava a cobrir os olhos. Então Frederico se sentou perto dele e fingiu estar mexendo em seu celular, enquanto olhava de vez em quando para o sujeito, que ficava somente escorado de braços cruzados em sua cadeira. Ao olhar mais atentamente Frederico se tocou de que o sujeito estava usando fones de ouvido, escutando algo tão alto que era possível ouvir o ruído mesmo dentro de uma festa, depois de um tempo Frederico começou a reconhecer o ruído, era uma música familiar a ele, logo ele teve certeza do que era, então tendo um motivo para conversar ele disse:

- Sensorium nessa festa?


Então o sujeito levantou a cabeça, virou para Frederico e disse:

- Algum problema?

- Claro que não, é uma das minhas músicas prediletas – respondeu.

- Então pra que a observação? – perguntou o sujeito enquanto virou a cabeça para o outro lado.

- É que... eu me sinto um pouco deslocado em festas assim... não tenho o que fazer nem com quem conversar – disse Frederico.

- Não vá me dizer agora que veio sozinho e que ninguém lhe convidou – respondeu o sujeito.

- Bem... vim porque sou estagiário da empresa, mas não tenho amigo, ou conhecido algum lá, na verdade só falo com uma única pessoa, que é meu chefe – respondeu Frederico.

- Então ele gosta muito de você, porque não é todo estagiário que vem para uma festa dessas – disse o sujeito.

- Na verdade sou o único estagiário dele. Você também é estagiário, não é? – perguntou Frederico.

Então o sujeito tirou os fones de ouvido e disse:

- Sim, também sou estagiário do jornal. Qual curso você faz? – perguntou o sujeito.

- Faço publicidade. Prazer! Sou Frederico – disse ele, mas ainda meio assustado pela repentina mudança do sujeito.

- Prazer, sou Mateus.

- Legal! Você é o primeiro estagiário com quem eu falo aqui. Então, que outras músicas você tem aí?

E logo começaram a conversar sobre música e sobre bandas. Mateus ficava espantado com o quanto Frederico sabia sobre as bandas e sobre música em si, ele também sabia, mas não tanto quanto seu novo conhecido e aprendeu coisas interessantes, e outras fúteis, mas tudo era agradável por se tratar de música. Então Frederico logo associou a sua vida ao tema música, involuntariamente, ele possuía essa característica, sempre associar um tema a outro sem sequer notar que o havia feito. Falou sobre aonde estudou e aonde estuda, e o que achava do curso.

- Que engraçado, já tive coisas assim, só que na escola eu era mais agressivo... Na faculdade me tornei meio que um perdido na vida, não levei a sério e isso me remeteu a perder dois semestres, estou no 5º semestre. - disse Mateus.

- Também estou no 5º, mas é porque eu entrei um ano depois. Você deve ter tido seus motivos pra isso. Qual curso você faz? – perguntou Frederico.

- Direito, direito mas fazendo tudo errado. Que bom que você nunca jogou no lixo um ano inteiro de sua vida ou vadiou como eu, nunca faça isso... – disse Mateus.

- Pare com isso! Você deve ter tido motivos pra isso, mesmo que pra outras pessoas tenha sido uma coisa deplorável ninguém pode te julgar porque ninguém está na sua pele pra ver o mundo como você vê, eu nunca julgo ninguém assim porque não acharia justo que me julgassem... – respondeu Frederico.

Mateus abaixou a cabeça por um momento, e disse:

- Ninguém fala assim comigo sabe... até porque não tenho muitos amigos, se eu tiver algum de verdade.

- Ah, que isso, acho que você deve ser uma pessoa legal de se conversar, deve ser porque aturou meu monólogo, desculpe. – disse Frederico.

- Que nada, eu que falo de menos.

- Meu deus! O tempo voou enquanto conversamos, já são 23 horas, preciso ir para casa. – disse Frederico.

- Mas já?

- Sim! Pretendo ir de ônibus ainda, então, foi muito bom conversar com você, a gente se vê pelo jornal!

- Mas e o importante da festa? Não vai esperar?

- Não tenho tempo, não vim aqui para ver o espetáculo e premiações, vou logo embora.

- Então anote meu número! Qualquer ajuda que a gente precisar no jornal e coisas assim nos comunicamos, ok? – disse Mateus.

- Claro! Então, boa noite – disse Frederico enquanto anotava o número – até mais!

Então, Frederico saiu da festa, tirou a roupa social e foi esperar por um ônibus voltando para casa não totalmente vazio, pois havia feito um novo amigo. Mas mal ele sabia que a festa estava somente para começar, e que haveria muita coisa rolando...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

9 – Um Retorno

Depois de dois meses trabalhando, Frederico começou a ter mais contato com a área jornalística, orientado por José, ele conseguiu progredir rapidamente e já fazia varias coisas sozinho. Por não ser da área de jornalismo em si, José era muito paciente com Frederico em alguns aspectos e sempre o incentivava. A relação de Frederico com outras pessoas do jornal era relativamente fria, pois nenhum deles era fã de José, logo seu estagiário também não teria mais afetividade de outros. Nesse dia especial, haveria o grande evento do jornal, uma festa de gala a noite em que seus funcionários foram convidados, incluindo Frederico.

Frederico foi feliz para sua casa, e lá dizendo:

- Mãe! Hoje fui convidado para um evento que terá do jornal!

- Nossa, mas já? Só 2 meses e você já vai para essas coisas? Espero que tenha roupas pra ir – disse a mãe dele.

- Bem eu irei compra-las agora mesmo! – respondeu Frederico – Vou só tomar um banho e sair.

E assim ele fez, foi tomar um banho e foi a uma loja comprar roupas sociais para poder ir ao evento no dia seguinte. Chegando de volta em casa ligou o computador para poder espalhar a notícia para seus amigos, e ao abrir seu Messenger, notou que havia um e-mail em sua caixa de entrada, como sempre foi checa-lo e viu que o assunto era “Sobre a Festa do Jornal”, provavelmente um e-mail do jornal, pensou ele, mas quando abriu ele viu que não tinha nada do jornal. “Você se manteve estável até agora, mas o que algo numa festa como essa não faria à você jovem Frederico, cuidado, para você ter uma verdadeira iluminação na vida, deverá agir direito.”. Depois de ver isso, Frederico teve mais um dos sustos, alguém ainda o estava seguindo, na verdade só ele tinha esquecido disso. Foi dormir com a mente ainda tensa sobre isso, nem contou para os amigos, afinal, poderia ser perigoso, quem estaria fazendo isso, e por quê? Durante seu sono, teve sonhos borrados e incompreensíveis, o mais nítido era um espaço vazio totalmente escuro, com somente uma fresta de luz retangular que se aproximava cada vez mais de Frederico, até que ele acordou, um minuto antes de seu despertador tocar, levantou, tomou seu banho, e seguiu para o trabalho.

Ao entrar na porta, vê José sentado na cadeira conversando com uma mulher ruiva, de costas para a porta, sentada na mesa. Por alguma razão ele ainda não entra, só fica ouvindo o que eles estão falando.

- Achei que tivesse esquecido do que havíamos combinado – disse José.

- Obviamente não, eu jamais esqueceria de uma de minhas maiores vontades atualmente – disse ela.

- E eu realmente não esperava te ver, logo hoje que é dia em que você deveria estar trabalhando agora – disse ele.

- Hoje é minha folga especial, nessa festa ninguém da minha família pode sair por cima – disse ela.

- Então você fará algo em público? – perguntou ele.

- Sim. Mas não é nada de que você pensa, vai ser só uma ofensa especial para as mulheres dela, pois eu serei a melhor – respondeu ela.

- Eu não boto muita fé nisso – disse ele – mas já que você está dizendo, acho que não custa tentar.

- Não é só isso, não vou lá para me divertir, dês de que sou independente nunca mais fui a essas festinhas sociais, que eu dispenso, vou para poder da início aos nossos planos, e espero que você colabore, leve um gravador, escondido em algum canto – disse ela.

- Ai ai ai... espero que isso não de complicações maiores para mim – respondeu ele.

- Hum, não se preocupe, eu me encarrego do resto – disse ela.

Então Frederico pensou que se ele entrasse na hora que ela fosse sair ficaria óbvio que ele ouviu, então entrou logo. Eles dois viraram para olhar para a porta, então Frederico disse:

- Bom dia! Desculpe o atraso senhor, – enquanto andava para sua mesinha – mas os ônibus hoje não estavam indo com a minha cara.

- Bom dia, - respondeu João – não se preocupe, você não está tão atrasado assim.

- Bom dia, você deve ser o famoso estagiário do José não é? – disse Patrícia.

- Famoso? Então deve ser outro – disse Frederico.

- Você arranjou um garoto esperto José, – disse Patrícia andando até Frederico para cumprimenta-lo – gostei de seu gosto, mas agora tenho mesmo que ir, bom dia e bom trabalho para vocês – e saiu da sala.

- Não se preocupe, ela não trabalha aqui, é só uma amiga próxima – disse José.

- Ah, sem problemas, não sabia que você falava de mim... – disse Frederico, meio desconfiado.

- E como não vou falar? Você é um excelente funcionário, se um dia eu sair você pode conseguir algo por indicação de mais pessoas – disse José.

Então começaram o trabalho, lendo coisas, pegando fotos, discutindo, pegando revistas e fatos coletados, recebendo fontes de telefonemas e entrevistas, coisas de todo o tipo, até que chegou a hora de ir, e Frederico foi para sua casa, para se preparar para o dia da festa...